Brasília — A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga descontos ilegais em benefícios do INSS abre a agenda política nesta segunda-feira (8) com o depoimento do ex-ministro da Previdência Social Carlos Lupi. Na quinta-feira (11), o colegiado espera ouvir o também ex-titular da pasta José Carlos Oliveira, hoje conhecido como Ahmed Mohamad Oliveira Andrade, que ocupou o cargo durante o governo Jair Bolsonaro (PL).
O comparecimento de ambos resulta de um acordo entre base governista e oposição para convidar — e não convocar — todos os ex-ministros que comandaram a Previdência entre 2015 e 2025, período definido pela comissão para apurar o esquema.
Fala de Lupi e críticas da oposição
Lupi, presidente nacional do PDT, já havia prestado esclarecimentos ao Congresso depois da Operação Sem Desconto, deflagrada em abril. À época, ele reconheceu conhecer a existência de descontos, mas atribuiu o problema a “descontrole” interno no INSS. Em entrevista à CNN sobre a oitiva desta segunda, afirmou estar “com a consciência e alma tranquilas”.
Para o deputado Marcel van Hatten (Novo-RS), integrante da CPMI, o ex-ministro “prevaricou ao não adotar medidas” para conter as fraudes. O parlamentar lembra que Lupi deixou o governo Dilma Rousseff em meio a suspeitas de irregularidades quando chefiava o Ministério do Trabalho.
Empresários e possível quebra de sigilo
Além dos ex-ministros, a comissão marcou para 15 de setembro o depoimento do empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, apontado como operador central do esquema de desvio de verbas. No dia 18 será a vez de Maurício Camisotti, cujas empresas teriam relação com pelo menos três associações sob investigação.
Antunes é acusado de articular repasses que alcançaram R$ 53 milhões a entidades suspeitas. Camisotti, por sua vez, teria movimentado milhões em valores considerados irregulares entre 2016 e 2024.
José Carlos Oliveira pode ter o sigilo bancário quebrado. Requerimento do senador Izalci Lucas (PL-DF) solicita a obtenção de dados financeiros e telemáticos do ex-ministro. O pedido ainda precisa ser votado, mas o parlamentar afirma que o relatório de inteligência do Coaf é “indispensável” para verificar as movimentações ocorridas enquanto as fraudes se intensificavam.
Órgãos já sabiam das irregularidades
Depoimentos anteriores delimitaram o período investigado. A diretora de Auditoria de Previdência e Benefícios da Controladoria-Geral da União (CGU), Eliane Veiga Mota, relatou que Acordos de Cooperação Técnica entre o INSS e entidades suspeitas existem pelo menos desde 2014. Mesmo com parecer contrário, o INSS renovou em 2024 o acordo com a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), principal responsável por descontos associativos.

Imagem: Geraldo Magela
Eliane afirmou que cabia ao INSS supervisionar os acordos e que não havia verificação sobre autorizações apresentadas pelas associações. Já a defensora pública federal Patrícia Bettin informou que o Ministério Público Federal extinguiu, em julho, o grupo de trabalho que apurava as denúncias, sem explicar a motivação.
Operação Sem Desconto
As fraudes vieram à tona em abril de 2025 com a Operação Sem Desconto, da Polícia Federal em parceria com a CGU. Investigações apontam que até R$ 6,3 bilhões podem ter sido descontados de forma irregular entre 2019 e 2024. Auditoria por amostragem entrevistou 1.273 beneficiários em todo o país e constatou que 97,6% não autorizaram os débitos. O golpe usava assinaturas falsificadas para justificar cobranças de, em média, R$ 70 mensais.
A Polícia Federal identificou que cerca de 60% do montante movimentado ocorreu durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Com novos depoimentos marcados, a CPMI pretende avançar na identificação de responsabilidades e na recuperação de valores desviados.
Com informações de Gazeta do Povo