Pesquisas divulgadas em 20 de fevereiro durante o 9º Encontro Anual da Pesquisa em Alimentação Saudável, em Baltimore (EUA), e publicadas na revista científica The Lancet, apontam que a maioria dos países avança pouco na adoção de políticas públicas para conter o excesso de peso. Apenas um em cada quatro governos possui programas específicos contra a obesidade, segundo os autores.
Em menos de uma geração, a taxa de obesidade infantil subiu de forma expressiva em todo o mundo. Nos Estados Unidos, crianças pesam em média 5 kg a mais do que há 30 anos, e uma em cada três já apresenta sobrepeso ou obesidade. Até 2010, nenhum país registrou queda sustentada do problema em toda a população.
Dupla carga nutricional
Nos países de baixa e média rendas, a situação é agravada pela convivência entre desnutrição e obesidade. Mais de 20% das crianças com menos de cinco anos ainda sofrem com nanismo, enquanto a prevalência de excesso de peso cresce rapidamente. Especialistas ressaltam a necessidade de políticas que promovam crescimento saudável sem estimular o consumo de alimentos ultraprocessados e baratos.
“Subnutrição e supernutrição compartilham gatilhos e possíveis soluções; é preciso uma política integrada”, afirma Tim Lobstein, da Federação Mundial de Obesidade. Ele lembra que crianças acima do peso representam mercado futuro para a indústria de alimentos, cujo segmento voltado ao público infantil deve movimentar US$ 19 bilhões em 2015, contra US$ 13,7 bilhões em 2007.
Avaliação de especialistas
Para Christina Roberto, da Escola de Saúde Pública de Harvard, a estratégia que depende apenas de autorregulação do setor privado não se mostra eficaz. A pesquisadora defende ações governamentais capazes de romper o ciclo de oferta e demanda por produtos com alto teor de açúcar e gordura.
O professor Boyd Swinburn, da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, acrescenta que profissionais de saúde ainda não estão preparados para lidar com o tema e ressalta a meta da Organização Mundial da Saúde (OMS) de impedir o aumento das taxas de obesidade até 2025. “É fundamental reforçar mecanismos de prestação de contas que limitem a influência da indústria na elaboração de políticas”, afirma.

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Possível alternativa terapêutica
Além das discussões sobre políticas públicas, um estudo publicado no The EMBO Journal apresenta um anti-inflamatório como potencial aliado contra a obesidade. Pesquisadores da Universidade Médica de Tóquio analisaram o composto LS-102, que inibe a enzima codificada pelo gene sinoviolina — já associado à artrite reumatoide. Em testes com camundongos, a perda da sinoviolina reduziu tecido adiposo branco e peso corporal, efeito vinculado à regulação mitocondrial.
Qualidade da dieta
Outro levantamento, divulgado na Lancet Global Health, avaliou hábitos alimentares de 4,5 bilhões de adultos em 187 países entre 1990 e 2010. O consumo de frutas e legumes aumentou, mas foi superado pela expansão de itens não saudáveis, como carnes processadas e bebidas açucaradas. Regiões de alta renda — Estados Unidos, Canadá, Europa Ocidental, Austrália e Nova Zelândia — continuam entre as que apresentam dietas com pior qualidade nutricional.
Com informações de Nutrição & Saúde