A Etiópia colocou oficialmente em operação, nesta terça-feira, a Grand Ethiopian Renaissance Dam (GERD), maior usina hidrelétrica do continente africano. Durante a cerimônia, o primeiro-ministro Abiy Ahmed classificou a obra como “o maior feito da história da raça negra”.
Características do empreendimento
Erguida sobre o Nilo Azul, na região oeste do país, a barragem tem:
- 1,78 km de extensão;
- 145 m de altura;
- 11 milhões de metros cúbicos de concreto;
- reservatório batizado de Lake Nigat (“amanhecer”, em amárico).
Após 14 anos de construção ininterrupta, a estrutura deverá gerar 5.100 MW, mais que o dobro da capacidade elétrica atual da Etiópia.
Financiamento interno e mobilização popular
Apesar de alegações externas de apoio financeiro, o governo etíope afirma que o projeto foi totalmente financiado no país, por meio de doações e venda de títulos públicos. O enfermeiro Kiros Asfaw, da região de Tigray, relata ter adquirido esses papéis “mais de 100 vezes” desde 2011, interrompendo as compras apenas durante a guerra civil que suspendeu serviços bancários locais.
Desafio técnico e humano
O engenheiro mecânico Moges Yeshiwas chegou ao canteiro de obras em 2012, aos 27 anos. Ele lembra jornadas de 12 horas sob temperaturas de até 45 °C e apenas duas viagens anuais para ver a família em Bahir Dar, a 400 km. Hoje, aos 40, diz sentir “orgulho profundo” por participar do projeto.
Eletricidade para milhões
Quase metade dos 135 milhões de etíopes ainda vive sem energia elétrica, segundo o ministro da Água e Energia, Habtamu Ifeta. O objetivo oficial é levar eletricidade a 90% da população até 2030, o que exigirá a instalação de “dezenas de milhares de quilômetros” de cabos de transmissão.

Imagem: Internet
Em Alamura, vila agrícola a 10 km de Hawassa, a agricultora Getenesh Gabiso, 35 anos, aguarda a chegada da rede. Sem luz, ela cozinha com lenha e usa lamparinas a querosene. “Quero apenas enxergar à noite”, resume.
Tensões regionais
Localizada em um afluente que responde pela maior parte do fluxo do Nilo, a GERD provocou atritos diplomáticos com o Egito, país situado a jusante. Ainda assim, autoridades etíopes consideram a hidrelétrica um símbolo de unidade nacional e de projeção internacional.
Com todos os geradores agora em funcionamento, o governo aposta que a energia do Nilo Azul impulsionará o desenvolvimento interno e permitirá exportar eletricidade a vizinhos da região.
Com informações de BBC News