Katmandu – Manifestantes colocaram fogo no prédio do Parlamento do Nepal nesta terça-feira, horas depois de o primeiro-ministro KP Sharma Oli apresentar sua renúncia em meio à pior onda de protestos no país em décadas.
O que aconteceu
Oli, de 73 anos e líder do Partido Comunista, deixou o cargo após a morte de 19 manifestantes em confrontos com a polícia na segunda-feira. Outros três óbitos foram registrados nesta terça, elevando o total para 22 vítimas durante a mobilização anticorrupção.
Aos gritos de “abaixo a corrupção”, multidões atacaram prédios governamentais e residências de políticos em várias regiões do país. Em Katmandu, o histórico complexo Singha Durbar, que abriga o Parlamento e ministérios, foi invadido e incendiado, produzindo densa fumaça preta sobre a capital.
Fuga em massa de presídios
No meio do caos, autoridades penitenciárias relataram a fuga de 900 detentos de duas prisões nos distritos ocidentais do Nepal.
Exército em alerta
Em comunicado divulgado na noite de terça-feira, o chefe do Exército afirmou que manifestantes vinham “danificando, saqueando e ateando fogo” a propriedades públicas e privadas. As Forças Armadas, segundo a nota, estão prontas para “assumir o controle da situação” a partir das 22h locais (16h15 GMT; 17h15 BST), caso a violência prossiga.
Origem dos protestos
O estopim foi a decisão do governo de bloquear 26 plataformas de mídia social, entre elas Instagram e Facebook, sob a justificativa de combater notícias falsas e fraudes online. Jovens acusaram a medida de censura e, mesmo com o recuo do governo na noite de segunda-feira, os atos já tinham ganhado força contra a elite política.
Antes do bloqueio, a campanha “nepo kid” — que expunha nas redes o estilo de vida luxuoso de filhos de políticos e supostos casos de corrupção — impulsionara a insatisfação.
Ausência de liderança clara
Até o momento, os manifestantes não apresentaram uma pauta formal além do combate à corrupção. As ações são descritas como espontâneas, sem liderança organizada.

Imagem: Internet
Depoimentos e alvos dos ataques
Em frente ao Parlamento, a estudante Muna Shreshta, de 20 anos, disse à BBC que “é hora de mudar” e que os impostos pagos pela população devem ser usados para o desenvolvimento do país.
Entre os alvos das chamas estão a sede do Partido do Congresso Nepalês, integrante da coalizão de governo, e a casa de seu líder, Sher Bahadur Deuba. A residência de Oli também foi incendiada.
Próximos passos
Oli afirmou, em carta de renúncia ao presidente Ramchandra Paudel, que deixou o posto para “facilitar uma solução constitucional” para a crise. Segundo um assessor presidencial citado pela agência Reuters, Paudel aceitou a saída e iniciou “processo e discussões para um novo líder”. Até agora, não há consenso sobre quem assumirá o governo.
Sem comando político definido e com a possibilidade de o Exército intervir, o Nepal enfrenta um cenário de incerteza enquanto os protestos continuam.
Com informações de BBC News