CATMANDU (Nepal) – O primeiro-ministro do Nepal, KP Sharma Oli, renunciou nesta terça-feira (11) após a morte de 22 pessoas em confrontos entre policiais e manifestantes que protestavam contra a corrupção e contra a recente proibição de plataformas de mídia social.
Como começou
Na semana passada, o governo bloqueou 26 redes, entre elas WhatsApp, Instagram e Facebook, alegando que as empresas não haviam se registrado no Ministério da Comunicação e Tecnologia da Informação dentro do prazo. A medida, vista pelos críticos como tentativa de silenciar campanhas anticorrupção, desencadeou protestos em todo o país. O bloqueio foi suspenso na noite de segunda-feira (10), mas a insatisfação já havia tomado as ruas.
Escalada da violência
Na segunda-feira (10), milhares de jovens – muitos empunhando cartazes que os identificavam como pertencentes à Geração Z – enfrentaram a polícia na capital, Catmandu, e em outras cidades. Segundo autoridades de saúde, 19 manifestantes morreram nesse dia e cerca de 200 pessoas ficaram feridas.
Agentes usaram gás lacrimogêneo, canhões de água, balas de borracha e munição real para conter a multidão, que chegou a escalar muros do Parlamento e de outros prédios oficiais. Diversos policiais também se feriram.
Novos ataques e renúncia
Os protestos prosseguiram na terça-feira, quando manifestantes incendiaram o edifício do Parlamento, a sede do Partido do Congresso Nepalês e a residência do ex-premiê Sher Bahadur Deuba. Outras casas de políticos foram depredadas. Mais três mortes foram registradas, elevando o total para 22 desde o início da crise.
Diante da pressão, Oli anunciou a renúncia “para abrir caminho a uma solução constitucional”. Ele não indicou sucessor, e parte da liderança política buscou refúgio junto às forças de segurança.
Exército em alerta
O chefe do Exército, general Ashok Raj Sigdel, afirmou que tropas estão nas ruas para “controlar quem se aproveita da situação para saques e vandalismo” e convidou os manifestantes a dialogar. Não ficou claro, porém, que medidas as Forças Armadas podem adotar nem quem representará os protestos, que não têm liderança formal.

Imagem: Internet
Geração Z à frente
Organizados principalmente por meio de chamadas nas próprias redes bloqueadas, os jovens adotaram as hashtags #NepoBaby e #NepoKids para denunciar o que chamam de vida luxuosa de políticos e seus familiares sustentada por dinheiro público. Estudantes de Catmandu, Pokhara e Itahari aderiram às marchas; vídeos mostram até alunos do ensino básico participando.
Os manifestantes exigem o fim da corrupção e a garantia da liberdade de expressão. “Isso é mais do que redes sociais; é sobre calarem nossas vozes”, disse a criadora de conteúdo Subhana Budhathoki à BBC Nepali. O prefeito de Catmandu, Balen Shah, é o único político a apoiar abertamente o movimento, pedindo moderação em suas redes.
Sem liderança definida no governo e com um toque de recolher que vem sendo ignorado, analistas temem nova escalada caso não haja negociação rápida.
Com informações de BBC News