Cabul (Afeganistão) – O Ministério do Ensino Superior controlado pelo Talibã determinou que todas as universidades do país removam de seus cursos 680 livros considerados “contrários à sharia e às políticas do sistema”, entre eles 140 obras escritas por mulheres. A ordem, emitida no fim de agosto, também veta o ensino de 18 disciplinas, incluindo Direitos Humanos e Assédio Sexual.
A lista de títulos banidos foi elaborada por um painel de “eruditos religiosos e especialistas”, segundo carta assinada por Ziaur Rahman Aryubi, vice-diretor acadêmico do ministério. Um integrante do comitê confirmou à BBC Afghan que “todos os livros de autoria feminina estão proibidos de ser ensinados”.
Temas ligados a mulheres na mira
Seis das 18 disciplinas suspensas tratam especificamente de questões femininas, como Gênero e Desenvolvimento, O Papel da Mulher na Comunicação e Sociologia da Mulher. Desde que retomou o poder, em 2021, o Talibã vem impondo sucessivas restrições às afegãs: elas já estão impedidas de estudar além da sexta série, e cursos de obstetrícia foram encerrados de forma discreta no fim de 2024.
Autores iranianos também excluídos
Dos 679 títulos listados, 310 são de autores ou editoras do Irã. Dois membros do comitê disseram que a medida busca “evitar a infiltração de conteúdo iraniano” no currículo afegão, em meio a tensões bilaterais sobre questões como direitos hídricos e a recente expulsão de mais de 1,5 milhão de afegãos pelo governo iraniano.
Impacto nas universidades
Docentes manifestaram preocupação. Um professor, que pediu anonimato, afirmou que a retirada de obras iranianas “rompe a principal ponte” entre as universidades afegãs e a produção acadêmica mundial, criando um “vazio significativo” no ensino superior. Em Cabul, outro docente disse que, diante das novas regras, será necessário preparar capítulos de livros internamente, mas questionou se conseguirão manter padrões internacionais.
Reações

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Zakia Adeli, vice-ministra da Justiça antes da volta do Talibã e autora de um dos livros vetados, declarou que a decisão era previsível: “Quando as mulheres não podem estudar, é natural que suas ideias e escritos também sejam suprimidos”.
Até o momento, o Ministério da Educação não se pronunciou publicamente sobre as restrições.
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Com informações de BBC News