O desafio da dupla de roteiristas Katy Brand (Boa Sorte, Leo Grande) e Suzanne Heathcote (Killing Eve), quando confrontadas com a tarefa de adaptar, na era Netflix, o best-seller O Clube do Crime das Quintas-Feiras para um filme de duas horas – incluindo créditos – era muito claro: escolher quais histórias cortar do livro.
O apelo da obra de Richard Osman, em grande parte, vem de como o autor usa a desculpa do mistério de detetive para abrir espaços nos quais os personagens (confrontados pelos investigadores, que os consideram suspeitos dos assassinatos no centro da trama) podem revelar segredos terríveis guardados há décadas, aventuras sigilosas e grandes loucuras de amor. “Todo mundo tem uma história para contar”, como propõe um dos intertítulos do livro.
Bom, na versão do diretor Chris Columbus (Harry Potter, Esqueceram de Mim), nem todo mundo tem tempo para contar sua história. Diante dessa realidade, o que o filme tenta manter do ethos de O Clube do Crime das Quintas-Feiras é a generosidade com os personagens cujas histórias de fato aparecem na tela, e o charme inegável do quarteto de protagonistas enxeridos que formam a associação do título. É um prazer reportar que, ao menos no segundo caso, a aposta funciona brilhantemente.
A espiã Elizabeth (Helen Mirren), o psiquiatra Ibrahim (Ben Kingsley), o líder de sindicato Ron (Pierce Brosnan) e a enfermeira Joyce (Celia Imrie) – todos agora aposentados e vivendo no luxuoso complexo de Coopers Chase, onde uma série de assassinatos abala a comunidade de idosos – continuam sendo simplesmente irresistíveis. Mirren, especialmente, prospera no papel da líder imponente que sempre tem uma carta na manga e, com um olhar astuto e algumas palavras bem colocadas, garante que ninguém nunca lhe diga “não”. Mas não há elo fraco no quarteto, e o roteiro garante que todos eles se tornem velhos conhecidos do espectador com o passar dos minutos.
