Brasília – O embaixador Celso Amorim, assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, classificou como “extremamente preocupante” a declaração da Casa Branca de que os Estados Unidos estariam dispostos a empregar “meios militares” para “proteger a liberdade de expressão” diante de uma eventual condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A afirmação foi feita em 9 de setembro pela porta-voz Karoline Leavitt, durante entrevista em Washington. Ao responder a uma pergunta do comunicador Michael Shellenberger, a secretária de imprensa mencionou que o governo Donald Trump “não hesitaria em usar força militar” caso considere ameaçada a liberdade de expressão no mundo.
Em entrevista à GloboNews, concedida nesta quarta-feira (11), Amorim avaliou que a declaração representa uma tentativa de pressão inócua sobre o Judiciário brasileiro. “Qualquer tentativa é inútil, porque o Supremo agirá com independência”, disse. Para o ex-chanceler, a menção ao uso da força, ainda que hipotética, “cria um ambiente desfavorável a negociações” e alimenta apreensão na sociedade brasileira.
Possíveis sanções e impacto econômico
O governo brasileiro não descarta novas sanções norte-americanas caso Bolsonaro seja condenado. Amorim, entretanto, considera tais medidas “improdutivas” para os próprios interesses econômicos dos Estados Unidos. “Esperamos que haja respeito à decisão do Judiciário brasileiro, cujos ministros foram nomeados por governos variados”, afirmou.
Aproximação com a China e outros parceiros
Segundo o assessor, o comportamento de Washington tende a aproximar Brasília de outras capitais. Ele citou China, França e Índia entre os países dispostos a desenvolver projetos conjuntos com o Brasil. Amorim revelou que, pela primeira vez, o Exército brasileiro enviará um adido de nível general para Pequim, sinalizando intensificação da cooperação militar bilateral.
Preocupação com movimentação naval dos EUA no Caribe
Amorim também condenou o posicionamento de navios de guerra, um submarino e aeronaves de inteligência dos EUA próximos à costa venezuelana, oficialmente parte de uma operação antidrogas. “É inadmissível qualquer intervenção na América do Sul”, observou, temendo que Washington tente obter aval de organismos regionais.

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Tensão entre Rússia e Otan
O embaixador classificou como “muito grave” o atual cenário geopolítico global. Citou a denúncia da Polônia de incursões de drones russos em seu espaço aéreo e a possível reação prevista no artigo de consultas da Otan. Para ele, o mundo atravessa o período “mais delicado desde o fim da Segunda Guerra Mundial”, superando até a Crise dos Mísseis de 1962.
No entender de Amorim, iniciativas de diálogo propostas pelo Brasil, em parceria com a China e demais membros do Brics, ganham relevância diante do risco de escalada nos conflitos europeu e no Oriente Médio. “Temos de trabalhar ativamente pela paz”, concluiu.
Com informações de G1