Uma combinação de políticas escolares, alerta de organizações internacionais e relatos de famílias chama a atenção para o avanço da obesidade infantil na África do Sul, país onde 22% das crianças com menos de cinco anos já apresentam sobrepeso ou obesidade — índice que era de 13% em 2016.
Escola adota cardápio vegetariano
No bairro de Randburg, em Joanesburgo, o Kairos School of Inquiry serve diariamente refeições majoritariamente vegetarianas. No almoço recente, os alunos receberam kitchari — mistura de arroz e lentilha — acompanhada de chutney de tomate, halloumi e salada. A direção também solicita que os pais coloquem apenas alimentos integrais nas lancheiras.
O diretor Marc Loon explica que a iniciativa pretende ensinar, desde cedo, a importância da boa alimentação. “Se todas as escolas fossem conscientes quanto ao que as crianças ingerem, a saúde delas seria beneficiada”, afirma.
Números globais preocupam
Dados das Nações Unidas apontam que, nas últimas duas décadas, o número de adolescentes com sobrepeso ou obesidade quase triplicou. Entre crianças de cinco a nove anos, o total saltou de 69 milhões para 147 milhões. O fenômeno é atribuído, em parte, à expansão da comida industrializada em países em desenvolvimento.
Influência do fast-food
Na África do Sul, o mercado de alimentação rápida movimentou US$ 2,7 bilhões em 2018 e deve atingir US$ 4,9 bilhões até 2026. A acessibilidade a esses estabelecimentos tem impacto direto nos hábitos de jovens como a estagiária de Direito Mamkhabela Mthembu, 23 anos. Ao morar sobre uma lanchonete durante a universidade em Pretória, ela passou a optar por refeições prontas e hoje lida com excesso de peso, sangramento gengival e dificuldades respiratórias.
Como voluntária do Unicef, Mamkhabela defende mais informação para estudantes sobre os riscos de dietas ricas em gordura, sal e açúcar.
Papel da publicidade
O gerente de nutrição do Unicef na África do Sul, Gilbert Tshitaudzi, cobra restrições à propaganda dirigida a crianças. “Não se pode responsabilizar apenas o indivíduo se o ambiente não oferece condições para uma vida saudável”, argumenta.

Imagem: Internet
Impacto de doenças e medicamentos
Em Alexandra, na periferia de Joanesburgo, Memory Padi relata a luta para controlar o peso da filha Sophia, de oito anos. Diagnosticada aos 18 meses com ADEM (encefalomielite disseminada aguda), a menina recebeu doses de corticoides que, segundo a mãe, contribuíram para que atingisse 107 kg. Mesmo com dieta de baixo carboidrato, o ganho de peso persiste.
Resposta do governo
O Ministério da Saúde lembra que, desde 2018, bebidas açucaradas pagam imposto adicional. A pasta prepara ainda um sistema de rotulagem frontal (FOPL) para destacar altos teores de açúcar, gordura e sal. Produtos com esse selo não poderão fazer alegações de saúde nem direcionar publicidade ao público infantil.
Estudo citado pelo governo indica que quase 80% dos alimentos para bebês à venda no país contêm muito açúcar, situação agravada por campanhas de marketing agressivas.
Enquanto novas regras não entram em vigor, escolas, pais e organizações continuam buscando alternativas para proteger a nova geração dos efeitos da má alimentação.
Com informações de BBC