Cortes de ajuda dos EUA fecham mais de 400 clínicas no Afeganistão e ampliam mortes maternas

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Kabul, 11 de junho de 2024 – A suspensão quase total da assistência financeira dos Estados Unidos ao Afeganistão levou ao encerramento de mais de 400 unidades de saúde em todo o país, agravando a mortalidade de gestantes e recém-nascidos, conforme apurou a BBC.

Clínica vital fechada sem aviso

Entre as estruturas desativadas está a pequena clínica de Shesh Pol, na província montanhosa de Badakhshan, a cerca de 20 minutos de carro da casa do lavrador Abdul. O local, que realizava de 25 a 30 partos mensais, contava com uma parteira treinada, medicamentos e serviços básicos de atendimento.

Em março, quando a esposa de Abdul, Shahnaz, entrou em trabalho de parto, o casal encontrou o posto trancado. Sem condições de pagar uma viagem mais longa até outro hospital, decidiram voltar. A criança nasceu dentro do táxi; mãe e bebê morreram em seguida por hemorragia.

Impacto direto dos cortes

A clínica de Shesh Pol é apenas um exemplo do efeito dos cortes decididos pela administração Trump no início de 2024, após o desmonte da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) no país. Cartazes da agência ainda cobrem as paredes descascadas do prédio.

Os EUA justificaram a retirada alegando “preocupações credíveis” de que o dinheiro beneficiava “grupos terroristas, incluindo o Talibã”. Um relatório do Inspetor-Geral Especial para a Reconstrução do Afeganistão (SIGAR) apontou que US$ 10,9 milhões teriam sido repassados ao governo controlado pelo Talibã em forma de “impostos, taxas ou serviços públicos”. A administração talibã nega.

Casos se multiplicam

Moradores de Shesh Pol relatam outras duas mortes maternas recentes, de Daulat Begi e Javhar, cujos bebês sobreviveram. Na mesma comunidade, Khan Mohammad perdeu a esposa, Gul Jan, e o filho Safiullah, três dias depois do parto.

A cinco horas dali, na aldeia de Cawgani, o fechamento de outra clínica financiada pela USAID resultou na morte de Maidamo e da filha Karima. Na mesma localidade, Bahisa deu à luz em casa, sem anestesia; a menina Fakiha morreu três dias depois.

Hospital superlotado

Com os postos rurais sem funcionamento, o hospital regional de Faizabad, capital de Badakhshan, registra lotação recorde. Onde existiam 120 leitos, há agora mais de 300 pacientes. O orçamento anual caiu de US$ 80 mil para US$ 25 mil, segundo o diretor, Dr. Shafiq Hamdard.

Cortes de ajuda dos EUA fecham mais de 400 clínicas no Afeganistão e ampliam mortes maternas - Imagem do artigo original

Imagem: Internet

Até agosto, o número de mortes maternas já igualava o total de todo o ano anterior, projetando aumento de até 50%. Óbitos de recém-nascidos cresceram cerca de um terço nos últimos quatro meses.

Formação de parteiras proibida

A crise é agravada pela proibição, imposta pelo Talibã, do ensino superior para mulheres desde 2022 e, em dezembro de 2024, da formação de parteiras e enfermeiras. Estudantes que tiveram o curso interrompido relatam depressão e temem novo salto na mortalidade.

Questionado sobre as restrições, Suhail Shaheen, chefe do escritório político do Talibã em Doha, limitou-se a dizer que se trata de “questão interna” a ser decidida “pela liderança”.

Palavras-chave: Afeganistão, ajuda externa, clínicas, mortes maternas, EUA, Talibã, Badakhshan, USAID, saúde, hospital

Com informações de BBC News

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