No domingo (7), data em que o Brasil comemora a independência de Portugal, milhares de pessoas foram às ruas em todo o país em atos a favor e contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. O clima festivo de desfiles militares, bandeiras e churrascos foi substituído por palavras de ordem que exaltavam a liberdade — ora em defesa da democracia, ora em defesa do ex-mandatário.
A mobilização ocorre às vésperas do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) que decidirá se Bolsonaro articulou uma tentativa de golpe para permanecer no poder após perder a eleição de 2022 para Luiz Inácio Lula da Silva. A partir de terça-feira (10), cinco ministros da Corte começam a apresentar seus votos individualmente.
Principais acusações
O processo aponta que Bolsonaro:
- propôs um golpe a comandantes militares;
- tinha conhecimento de um plano para assassinar Lula e o ministro Alexandre de Moraes;
- incentivou apoiadores a invadir prédios públicos em 8 de janeiro de 2023, após questionar a lisura do sistema eletrônico de votação.
O ex-presidente nega todas as acusações e afirma ser alvo de perseguição política, posição compartilhada por simpatizantes e pelo ex-mandatário dos Estados Unidos Donald Trump.
Reações nos EUA e impacto interno
Trump chamou o processo de “perseguição política” e impôs tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, além de sanções ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso. O deputado Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, articulou a medida em Washington e disse à BBC que “a liberdade vem antes da economia”.
Para muitos brasileiros, porém, apoiar punições econômicas ao país é visto como atitude antipatriótica. Na Avenida Paulista, em São Paulo, a apoiadora Bianca — enrolada em uma bandeira que mesclava símbolos dos EUA e do Brasil — avaliava que as sanções norte-americanas esfriaram o apoio ao julgamento.
Ruas tomadas por cores e símbolos
Nos atos pró-Bolsonaro, predominavam camisetas da seleção e faixas pedindo “Anistia” e “Fora Moraes”. Alguns manifestantes vestiam bonés com o nome de Trump. Já na concentração contrária ao ex-presidente, infláveis gigantes retratavam Bolsonaro com roupa de presidiário e cartazes exigiam “Prisão para Bolsonaro” e “Trump, tire as patas do Brasil”.
O estudante Rafael classificou uma eventual condenação como “vitória” e disse que o país precisa evitar interferências estrangeiras. Para Karina, “todas as evidências mostram que foi uma tentativa de golpe”.
Papel do STF sob debate
O STF se apresenta como guardião da democracia desde o fim da ditadura em 1985, mas tornou-se alvo de críticas. Além de julgar autoridades, ministros integram o Tribunal Superior Eleitoral e podem derrubar leis. O presidente atual da Corte advogou para Lula no passado, fato explorado por bolsonaristas que alegam parcialidade.

Imagem: Internet
Conduzido por Moraes, o inquérito das fake news prendeu aliados de Bolsonaro e derrubou perfis em redes sociais. Críticos veem excesso; defensores consideram um modelo de combate à desinformação.
Condenação exemplar ou excesso punitivo?
Entre os casos que alimentam denúncias de abuso está o de Débora Rodrigues dos Santos, 39 anos, condenada a 14 anos de prisão por escrever “Você perdeu, idiota” com batom na estátua da Justiça. A pena foi convertida em prisão domiciliar por ela cuidar dos filhos, mas a família considera desproporcional. “Se condenarem Bolsonaro por golpe, também condenam 1.200 pessoas que protestavam”, disse a irmã, Cláudia.
Do outro lado, Ricardo Cappelli, ex-interventor federal que retomou a ordem em Brasília após os ataques de 8 de janeiro, defende o processo. Para ele, julgar os responsáveis é “virar a página” e enviar recado de que o país não tolerará novas ameaças ao regime democrático.
Projeto de anistia no Congresso
Com maioria no Legislativo, o Partido Liberal (PL) pressiona pela aprovação de um projeto que concede anistia a Bolsonaro e aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro. Cappelli adverte que anistias passadas incentivaram outras rupturas institucionais: “O golpista de hoje vira o golpista de amanhã”.
Enquanto o STF se prepara para decidir, o país segue dividido. Para admiradores, o julgamento confirma uma perseguição inexistente; para detratores, é a chance de evitar outra ditadura. Mesmo setores moderados esperam que a decisão traga algum ponto final, embora temam que a polarização se aprofunde.
Com informações de BBC News