Milhares de palestinos continuam a deixar a Cidade de Gaza nesta quarta-feira (data local), segundo dia da grande ofensiva terrestre de Israel destinada a ocupar a área, resgatar reféns e derrotar até 3.000 combatentes do Hamas, descritos por Israel como o “último reduto” do grupo.
A ação militar ocorre em meio a forte condenação internacional. Mais de 20 grandes agências de ajuda humanitária, entre elas Save the Children e Oxfam, afirmaram que “a desumanidade da situação em Gaza é inconcebível”. Na véspera, uma comissão de inquérito da ONU concluiu que Israel cometeu genocídio contra os palestinos em Gaza, acusação rejeitada veementemente pelo governo israelense.
Bombardeios e retirada de civis
O Ministério da Saúde controlado pelo Hamas informou que o hospital infantil al-Rantisi, único especializado em câncer e insuficiência renal pediátrica no enclave, foi atingido três vezes na noite de terça. A unidade relatou danos severos em aparelhos de ar-condicionado, caixas d’água e painéis solares, sem registro de feridos. As Forças de Defesa de Israel (FDI) disseram estar averiguando o caso.
A FDI anunciou ter atacado mais de 150 alvos em dois dias para apoiar suas tropas terrestres. Segundo a imprensa israelense, antigos veículos militares carregados de explosivos estão sendo operados remotamente até posições do Hamas e detonados.
Moradores descrevem uma noite de “explosões contínuas”. Nidal al-Sherbi relatou à BBC árabe que blindados avançaram pelos bairros Sheikh Radwan, Tal al-Hawa e Shejaiya, tornando a madrugada “muito assustadora”.
Rotas de fuga e custos elevados
Diante do aumento dos bombardeios, longas filas de civis se dirigem ao sul em carroças, triciclos, veículos lotados e a pé. Até agora, a principal rota era a estrada costeira rumo à área humanitária designada por Israel em al-Mawasi. Nesta quarta, as FDI abriram temporariamente a via central Salah al-Din por 48 horas, a partir das 12h locais (10h em Brasília).
Muitos palestinos dizem não conseguir arcar com a mudança: alugar um pequeno caminhão pode custar o equivalente a US$ 900, e uma tenda para cinco pessoas chega a US$ 1.200. Organizações de ajuda alertam que a zona humanitária está superlotada e incapaz de receber os cerca de dois milhões de habitantes previstos.
Números do deslocamento e vítimas
As FDI estimam que 350 mil pessoas já deixaram a Cidade de Gaza; a ONU calcula 190 mil desde agosto e indica que pelo menos 650 mil permanecem na região.
O Ministério da Saúde de Gaza informou 98 mortos e 385 feridos pela ação israelense nas últimas 24 horas. Quatro pessoas morreram de desnutrição, elevando para 154 o total de óbitos por fome desde que um órgão apoiado pela ONU declarou fome na cidade em agosto.

Imagem: Internet
Reféns e protestos em Israel
Familiares dos 48 reféns ainda mantidos pelo Hamas — 20 deles presumivelmente vivos — protestaram perto da residência do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em Jerusalém, temendo que a ofensiva coloque em risco seus parentes. “O dia inteiro vocês se gabam de destruição”, disse Macabit Mayer, tia dos sequestrados Gali e Ziv Berman.
Repercussão internacional
O papa Leão XIV classificou as condições dos palestinos em Gaza como “inaceitáveis” e renovou o apelo por cessar-fogo. A Comissão Europeia propôs sanções a Israel, incluindo a suspensão de partes do acordo de associação comercial e punições a ministros considerados extremistas e a colonos violentos. Israel advertiu o bloco contra a adoção das medidas, que ainda não têm apoio suficiente entre os Estados-membros.
Contexto do conflito
Israel iniciou a guerra em Gaza após o ataque liderado pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, que matou cerca de 1.200 pessoas e resultou em 251 sequestrados. Desde então, pelo menos 65.062 palestinos — quase metade mulheres e crianças — morreram em bombardeios israelenses, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza.
Com a fome já declarada na Cidade de Gaza por um órgão de segurança alimentar apoiado pela ONU, a organização alerta que a intensificação da ofensiva pode levar os civis a uma “catástrofe ainda mais profunda”.
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Com informações de BBC News