Rosa Roisinblit, referência na defesa dos direitos humanos na Argentina e cofundadora das Avós da Praça de Maio, morreu aos 106 anos, informou a própria organização.
Em nota, o grupo agradeceu à militante “pela dedicação e pelo amor com que buscou netos e netas até o fim”.
Vida e trajetória
Nascida em 15 de agosto de 1919, em Moisés Ville, colônia de imigrantes judeus na província de Santa Fé, Roisinblit formou-se obstetra, mudou-se para Buenos Aires em 1949 e casou-se em 1951.
Ditadura e desaparecimento da família
Durante a ditadura militar (1976-1983), cerca de 30 mil pessoas foram mortas ou desapareceram, e aproximadamente 500 bebês de opositores foram entregues a outras famílias. Entre as vítimas estavam a filha de Rosa, Patricia Roisinblit, grávida, o genro José Pérez Rojo e a neta de 15 meses, Mariana, sequestrados em 6 de outubro de 1978.
Patricia foi mantida viva na Escola de Mecânica da Armada (Esma) até dar à luz um menino. Ela e o marido nunca foram encontrados. Mariana foi devolvida à avó, mas o recém-nascido foi entregue a um oficial de Inteligência da Aeronáutica.
Busca pelos netos
Após o sequestro da família, Rosa ingressou nas Avós da Praça de Maio, atuou seis anos como tesoureira e, de 1989 a 2022, foi vice-presidente. Em 2000, graças a testes de DNA e ao trabalho da entidade, o neto foi localizado: criado como Guillermo Francisco Gómez, ele foi reunido com a avó e a irmã.

Imagem: Internet
Julgamentos e condenações
Em 2016, Francisco Gómez, o militar que havia criado o menino, foi condenado à prisão perpétua pelo sequestro da criança; a esposa dele, Teodora Jofre, recebeu três anos de prisão. No mesmo ano, um ex-comandante da Força Aérea e um ex-agente de Inteligência pegaram 25 anos de cadeia pelo rapto e tortura de Patricia e José. Rosa, então com 96 anos, acompanhou o julgamento ao lado dos netos.
Legado
Até hoje, cerca de 140 filhos de desaparecidos foram identificados; centenas ainda são procurados. Guillermo, neto de Rosa, tornou-se advogado de direitos humanos e atua com as Avós da Praça de Maio. Ao anunciar a morte da avó nas redes sociais, ele afirmou que se conforta em pensar que, após 46 anos, ela se reencontra com a filha e o marido.
Com informações de BBC News