Washington (06 horas atrás) – Em menos de 24 horas, a Casa Branca se viu diante de dois episódios que colocam à prova a capacidade do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de controlar aliados e rivais: um bombardeio israelense contra escritórios do Hamas em Doha, no Catar, e a entrada deliberada de drones russos no espaço aéreo polonês.
Bombardeio em Doha
Na madrugada de segunda-feira (horário local), caças de Israel atacaram instalações do Hamas na capital catariana. O alvo abrigava parte da liderança do grupo, reunida para discutir a proposta mais recente de cessar-fogo apresentada por Washington dois dias antes.
Trump havia advertido o Hamas nas redes sociais de que aquela seria a “última chance” para aceitar os termos dos Estados Unidos. Mesmo assim, Israel agiu sem aguardar resposta, colocando em risco a delicada arquitetura diplomática que sustentava as negociações sobre Gaza.
O Catar abriga uma das maiores bases aéreas americanas no Oriente Médio, o que levou a suspeitas de que Washington soubera previamente da operação. A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que a informação chegou tarde demais para alertar Doha e classificou o ataque como “contrário aos objetivos de Israel e dos Estados Unidos”. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse tratar-se de ação “totalmente independente”.
Incursão russa na Polônia
Horas depois, 19 drones russos cruzaram a fronteira ucraniana e avançaram sobre território polonês, alguns penetrando profundamente no país, segundo Varsóvia. O primeiro-ministro Donald Tusk declarou no Parlamento que esta foi “a vez que mais estivemos próximos de um conflito aberto desde a Segunda Guerra Mundial”.
Embora Moscou negue intenção deliberada, autoridades de defesa da OTAN consideram a incursão um teste à determinação da Aliança. A Polônia derrubou os aparelhos; não houve vítimas, mas um prédio residencial teve o telhado danificado.
A reação inicial da Casa Branca foi discretamente questionada por aliados. Enquanto se pronunciou rapidamente sobre o ataque israelense ao Catar, Trump permaneceu em silêncio por várias horas antes de publicar em sua rede Truth Social: “O que significa a Rússia violar o espaço aéreo da Polônia com drones? Aqui vamos nós!”.

Imagem: Internet
Pressão sobre a Casa Branca
Os dois episódios reacendem dúvidas sobre a disposição de Trump de conter tanto o aliado Israel quanto o presidente russo, Vladimir Putin — a quem recebeu em um encontro no Alasca no mês passado. Autoridades europeias trabalham com Washington em um novo pacote de sanções contra Moscou, o primeiro desde o retorno de Trump à presidência, mas aguardam um sinal firme dos Estados Unidos sobre compromissos de segurança.
A Aliança Atlântica continua contando com o poder militar americano como pilar de dissuasão. O recente acordo que facilita a compra de armas dos EUA para a Ucrânia e o aumento dos orçamentos de defesa europeus melhoraram o clima interno na OTAN, porém não eliminaram questionamentos sobre a vontade de Washington de agir quando a soberania de um aliado é ameaçada.
Com dois conflitos simultâneos — Gaza e Ucrânia — e aliados desconfiados, o governo Trump enfrenta um teste de liderança que pode definir o rumo de sua política externa nos próximos meses.
Com informações de BBC News