Londres – O primeiro-ministro britânico, Sir Keir Starmer, anunciou neste domingo (data local) que o Reino Unido passou a reconhecer formalmente o Estado da Palestina, rompendo com a postura tradicional de Londres sobre o tema.
Em vídeo divulgado na rede X, Starmer afirmou que a medida visa “manter viva a possibilidade de paz e uma solução de dois Estados” diante do agravamento do conflito no Oriente Médio. A posição foi tomada em conjunto com Austrália, Canadá e Portugal; a França deve aderir em breve.
Como será o reconhecimento
Segundo o Ministério das Relações Exteriores, o Reino Unido passa a reconhecer a Palestina “com fronteiras provisórias baseadas nas linhas de 1967, com trocas de território equivalentes, a serem definidas em negociações futuras”. O formato segue o esquema clássico de dois Estados: um Estado palestino na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, com Jerusalém Oriental como capital.
Reações imediatas
O governo israelense repudiou a decisão. O premiê Benjamin Netanyahu declarou que um Estado palestino “não acontecerá” e considerou a iniciativa “uma grande recompensa ao terrorismo”. Para Israel e para os Estados Unidos, o reconhecimento beneficiaria o Hamas, responsável pelo ataque de 7 de outubro de 2023, que matou 1.200 pessoas e fez 251 reféns.
Starmer refutou a avaliação, sublinhando que “não se trata de prêmio ao Hamas” e reiterando que o grupo “não terá futuro, nem papel em governo ou segurança”. O líder trabalhista definiu a medida como “um compromisso com palestinos e israelenses por um futuro melhor” e classificou a fome e a destruição em Gaza como “intoleráveis”.
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, saudou a mudança, dizendo que ela ajuda a “abrir caminho para que o Estado da Palestina viva lado a lado com o Estado de Israel em segurança e paz”. Já o Hamas classificou o gesto como “importante” e cobrou ações concretas que levem ao “fim imediato” da guerra.
Críticas internas
No Reino Unido, a líder conservadora Kemi Badenoch chamou a decisão de “catastrófica” e acusou o governo de “recompensar o terrorismo”. A ex-secretária de Estado Priti Patel declarou que Starmer “cedeu à ala radical” de seu partido. Por outro lado, o líder liberal-democrata Sir Ed Davey considerou o reconhecimento “atrasado, porém bem-vindo”.
Familiares de reféns ainda mantidos em Gaza, representados pelo Hostages and Missing Families Forum UK, disseram que Londres “traiu a humanidade” enquanto 48 sequestrados continuam em cativeiro, cerca de 20 deles vivos segundo estimativas.
Contexto de guerra
O anúncio ocorre em meio à escalada militar em Gaza. Nas últimas 24 horas, o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas relatou 71 mortos e 304 feridos em ataques israelenses. Desde o início da ofensiva, em 2023, o órgão contabiliza 65.208 mortes.

Imagem: Internet
Na Cisjordânia, a expansão de assentamentos judaicos – considerados ilegais pelo direito internacional – foi apontada por ministros britânicos como fator decisivo para o reconhecimento. Netanyahu reafirmou que seu governo “duplicou os assentamentos em Judeia e Samaria” e continuará nesse caminho. O ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, chegou a defender a anexação completa da Cisjordânia e o fim da Autoridade Palestina.
Na semana passada, uma comissão de inquérito da ONU acusou Israel de genocídio em Gaza, alegação rejeitada por Tel Aviv como “distorcida e falsa”.
Próximos passos
Starmer já determinou a ampliação de sanções contra líderes do Hamas. Ele havia fixado um prazo até a Assembleia Geral da ONU, que começa na próxima semana, para anunciar o reconhecimento caso Israel não concordasse com um cessar-fogo e passos concretos rumo à paz – metas que, segundo Londres, não foram atendidas.
O vice-premiê David Lammy reconheceu que o ato “não muda a realidade no terreno”, mas defendeu que “agora é a hora de apoiar a solução de dois Estados”. Ele também destacou que a libertação de reféns e o suprimento de ajuda humanitária dependem de um cessar-fogo.
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Com informações de BBC News