FALL RIVER (Massachusetts) – Nove meses após o início da aplicação de tarifas de importação propostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sinais de dificuldade se multiplicam em fábricas do país, contrariando o discurso oficial de renascimento da manufatura.
Pequena linha de produção resiste em fábrica histórica
No interior de um prédio industrial construído na década de 1890 em Fall River, apenas 15 funcionários operam máquinas de costura na Accurate Services Inc., especializada em equipamentos neonatais hospitalares. O negócio pertence à família Teixeira, que fechou a maior parte de sua operação em 1990 e passou a atuar principalmente como armazém e distribuidora.
Desde que as tarifas foram anunciadas, a empresa tem recebido consultas de companhias interessadas em terceirizar produção nos EUA. O copropietário Frank Teixeira, porém, recusa as propostas. Ele cita a dificuldade de contratar mão de obra em meio ao endurecimento das políticas migratórias e questiona a sustentabilidade da demanda. “As tarifas são uma má política e vão acabar nos prejudicando”, afirmou.
Emprego manufatureiro encolhe
Dados de agosto mostram que a criação de vagas nos EUA perdeu força este ano. Na indústria, as folhas de pagamento encolheram, com corte de 12 000 postos apenas no mês passado. Pesquisas do Federal Reserve de Dallas indicam contração do setor: 71% dos fabricantes consultados relataram impacto negativo direto das tarifas — que variam de 10% a 50% sobre a maioria dos produtos importados.
Custos sobem em fabricante de luxo
A cerca de 30 quilômetros dali, a Matouk, fundada em 1929 e hoje com 300 empregados, acusa alta de mais de US$ 100 000 (cerca de £ 74 000) por mês, entre abril e agosto, devido a sobretaxas sobre insumos como tecido de algodão da Índia e de Portugal e penas de Liechtenstein. O presidente George Matouk diz ter reduzido investimentos em novos equipamentos e marketing. “Como os materiais também são taxados, não vemos benefício algum; somos obrigados a repassar preços e isso deve afetar as vendas”, explicou.
Couro sofre aumento de 15% nos custos
Na Vanson Leathers, fabricante de jaquetas para motociclistas fundada em 1974, o proprietário Mike van der Sleesen calcula alta de 15% nas despesas deste ano. O empresário, eleitor de Trump, concorda com o presidente sobre obstáculos enfrentados por empresas americanas no exterior, mas critica as tarifas. “O caminho comercial sempre foi desigual. As mudanças foram tão drásticas que é difícil prever o resultado”, disse. A fábrica emprega cerca de 50 pessoas, ante mais de 160 em 2000.

Imagem: Internet
Apoiadores mantêm esperança
Apesar das dificuldades relatadas pelas empresas, parte dos moradores de Fall River continua confiante. O aposentado Tom Teixeira, 72 anos, votou em Trump nas últimas três eleições e acredita que a estratégia precisa de tempo: “Se daqui a um ano as coisas não ficarem mais baratas, aí veremos”, declarou.
Por ora, a distância entre a promessa de um novo boom industrial e a realidade diária das fábricas norte-americanas permanece visível nos corredores das plantas de Massachusetts.
Com informações de BBC News